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  • anabelaborgessilva

O Mundo é um lugar-comum

“Lugar-comum”: entre o ser e o parecer!


A expressão “lugar-comum” deriva do latim locus comunis e assume, na atualidade, o sentido pejorativo de expressão trivial, banal, que se repete frequentemente. Por “lugar-comum” são sinónimas expressões com o mesmo valor semântico, tais como: cliché, chavão, chapa, frase feita, estereótipo, slogan, etc.

Na Antiguidade Clássica, o “lugar-comum” começou por ser aplicado por Quintiliano no sentido de fontes de argumentos (sedes argumentorum), ao serviço da arte da palavra, possuindo assim validade literária e discursiva, pois a associação de ideias permitia orientar o interlocutor na compreensão e na persuasão dos argumentos. O “lugar-comum” era, na verdade, uma figura fundamental da retórica.

Na Idade Média ainda se valoriza o “lugar-comum” no discurso, sobretudo pelo recurso a uma figura semelhante, o exemplum e o imago, para ilustrar, com exemplos significativos e consagrados pela tradição, certas passagens mais expressivas dos sermões ou das orações públicas.

Muito usado na linguagem oral, o “lugar-comum” está associado a uma intenção premeditada de pretensa erudição, em que o locutor não está geralmente consciente do seu uso gasto e utiliza-o com a nítida intenção de apenas impressionar o interlocutor.

Talvez por isso o “lugar-comum” se tenha tornado, na literatura, sinónimo de estereótipo, frase feita, ideia feita, chavão, chapa, cassete, nariz de cera (repetição valorativa ou depreciativa, representação de dados da realidade, expressão que o uso corrente banalizou, vício de linguagem, fraqueza de estilo). Se apenas se considerar e usar o “lugar-comum” desta forma superficial, então pode afirmar-se que, por exemplo, toda a literatura pré-romântica e romântica não passará de uma amálgama de frases feitas, de chavões despidos de originalidade, quando se usa e abusa de tópicos como a angústia, o locus horrendus, o individualismo, entre outros.

Contudo, quando o “lugar-comum” apresenta um “facto de estilo”, esse grau depreciativo de banalidade cai por terra para passar a ganhar interesse literário, pela sua originalidade consequente do processo criativo do escritor/autor.


In: E-Dicionário de Termos Literários, Carlos Ceia, 30/12/2009 (adaptação) https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/lugar-comum/



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